Mulher ganha espaço político

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21/10/2008 /10/2008
Mulher ganha espaço político

“Dizem que as mulheres não têm interesse por política. Se elas não tivessem interesse, elas não teriam batalhado pelo direito ao voto”. É com essa afirmação que a pesquisadora e secretária da Mulher em Pernambuco, Cristina Buarque, desconstrói o mito de que a mulher não tem vontade de ocupar cargos políticos. Para Cristina, a tímida representação feminina no poder é um reflexo de valores culturais e, sobretudo, da estrutura machista dos partidos políticos. Para se ter uma idéia, nas últimas eleições municipais, o Nordeste elegeu 231 prefeitas e 2.453 vereadoras. Um número baixo se compararmos com a quantidade de homens eleitos: 1.557 prefeitos e 14.149 vereadores, segundo levantamento do Centro Feminista de Estudos e Assessoria.

No Brasil, as mulheres representam 51,73% do eleitorado, mas ocupam apenas cerca de 5% dos cargos políticos. O número de mulheres eleitas para o Executivo municipal cresceu quase 2% em comparação com as eleições de 2004. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre os 5.484 eleitos para comandar as prefeituras do País, 498 são mulheres.


Ainda segundo o TSE, as mulheres representam mais de 9% dos prefeitos eleitos no primeiro turno, superando as duas últimas eleições. Em 2004, por exemplo, o percentual de prefeitas foi de 7,32%. Mesmo com todos obstáculos, Pernambuco deu um salto significativo no número de mulheres nos cargos políticos. Em 2004, dez prefeituras eram comandadas por mulheres, nessas eleições, foram eleitas 17 mulheres. Já o número de vereadoras passou de 181 para 205.


De acordo com Cristina, a prova cabal de que o maior obstáculo encontrado pelas mulheres na vida política, é a própria resistência dos partidos de lançarem candidatas. “Eles (os partidos) são cruéis, a prova disso é quando eles não cumprem a política de cotas. E muitas vezes, quando fazem que estão cumprindo a política de cotas, estão colocando candidatas laranjas , ou seja, lançam candidatas, mas não dão suporte para a campanha”, atacou.


A Lei de Cotas, que foi aprovada em 1996 e determina que 30% dos candidatos sejam do sexo feminino. No entanto, muito dos partidos não cumprem com a determinação, geralmente, esse percentual fica em torno dos 20%.


A vereadora do Recife, Priscila Krause (DEM-PE), acredita que o fator cultural ainda é o maior responsável pela pouca representação feminina na política. Priscila, que é filha do ex-ministro Gustavo Krause, afirmou que nunca sofreu com a falta de apoio do partido. “Não é que a sociedade resista a votar em uma mulher, é que as pessoas estão acostumadas a votar nos homens. Nunca sofri restrições no meu partido, mas por se filha de político, as lideranças sempre me conheceram, e isso influi”, admitiu.


Assim como Priscila, as outras duas vereadoras eleitas no Recife também são de famílias de políticos: Aline Mariano (PSDB) é filha do ex-deputado estadual Antônio Mariano e Marília Arraes (PSB) é neta do ex-governador Miguel Arraes e prima do atual governador Eduardo Campos (PSB).


Cristina Buarque também apontou que a obrigação social da mulher faz com que muitas vezes ela se afaste ou evite a vida pública. As mulheres são, na maioria das vezes, responsáveis pelos cuidados com os filhos, com o próprio marido, com a casa. E ainda as mulheres precisam conciliar o trabalho com as atividades de casa. “A mulher antes era destinada ao espaço privado, quando ela começa a ocupar o público, as obrigações com a família continuam. O que existe também é uma desigualdade na divisão dessas obrigações”, destacou.

Custo da campanha e família são obstáculos

Outro fator citado pela pesquisadora Cristina Buarque é o medo das mulheres em arriscar suas finanças em uma campanha, já o homem é menos cauteloso nesse sentido. Além disso, foi criado um estereótipo de que a mulher atuante na política é uma mulher sem filhos e solteira. Quebrando esse paradigma, a vereadora licenciada do Recife, Luciana Azevedo (PT), foi eleita nas eleições de 2004, com mais de 14 mil votos, a maior votação da história recifense para uma mulher.

Luciana acredita que esse grande número de votos está ligado ao seu perfil. “Eu sempre fui envolvida com política, mas sou casada há mais de 30 anos, tenho três filhos. Eu quebro esse estereótipo de que a mulher da casa não pode ser uma mulher da política”, ressaltou. Sobre possíveis preconceitos sofridos na Câmara Municipal, Luciana afirmou que, de forma geral, “nunca houve atos explícitos de rejeição, o preconceito fica mais implícito”. Em toda a história da Casa José Mariano, apenas oito mulheres ocuparam o cargo de vereadora. Atualmente, só a vereadora Priscila Krause atua no Legislativo Municipal, que possui 36 vereadores.


Além do cumprimento da Lei de Cotas, um estudo do Centro de Informação, Pesquisa e Comunicação da Mulher revela que outra estratégia importante para o aumento na presença das mulheres no poder é a lista pré-ordenada de candidaturas, com alternância de sexo, que para o Centro deve ser discutida no âmbito da Reforma Política.

Fonte: Folha de Pernambuco                                                                20/10/08


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